Entrevistado: Carlos José Teixeira, 41 anos, Inspector Técnico-Comercial
Blogue: Factura
1. Sabendo que a blogosfera é uma janela para a vida cibernética, como vê o fenómeno «blogue»?
- Vou considerar "vida cibernética" a vida verdadeira ou inventada conforme ela é exposta na blogosfera, sem passarmos pela fastidiosa sucessão de zeros e uns, pela vida em código binário de verdades e falsidades. Neste contexto, a blogosfera é, realmente, uma janela para a vida cibernética e como tal, expõe sem preconceitos tudo aquilo que por lá caiba. E cabe tudo.
O fenómeno blog está para os tempos actuais o que foram nos inícios dos anos 80 as "rádios piratas" ou os "fanzines" [adaptação da opinião do Filinto (do Jornada, no WordPress), que subscrevo parcialmente]. Realmente, a intenção desses meios alternativos de comunicação foi a de expor assuntos que não cabiam no espartilho da comunicação institucionalizada. Agora nos blogs, como na época nesses meios, a febre de publicação é a mesma e cada um de nós, bloggers, tenta publicar o que lhe interessa, ou pensa interessar aos outros.
Há, no entanto, diferenças muito grandes. A primeira relaciona-se, obviamente, com a escala. Ao passo que os meios referidos tinham uma escala reduzida tanto em número como em acesso, a blogosfera, mesmo em relação ao número de webpages que existiam antes dos blogs, é virtualmente infinita - tanto em número de páginas como de participantes. A segunda diferença prende-se com os assuntos apresentados. São todos. Todos e mais alguns, apresentados por toda a gente que tenha acesso a um computador e à internet e que queira falar sobre o que quer que seja, sem censura a não ser a do bom senso [ou da falta deste]. Isto tem espectos positivos e aspectos negativos, enfim, como toda a liberdade que o seja.
Resumindo, creio que o fenómeno blog é um fenómeno ainda em evolução e que acabará eventualmente por cristalizar. Participativo e interactivo, é um meio onde cabem todos e onde a partilha de informação pode e deve ser alcançada. É, na verdade, o "speakers corner" da internet.
2. Quando acede à blogosfera que tipo de blogues procura?
- Procuro blogs temáticos das mais variadas espécies. Desde a informação à poesia, passando pela opinião e pela poesia, fotografia, etc. Ultimamente tenho prestado mais atenção aos blogs que tratam da blogosfera em si.
3. O que o levou a criar um blogue?
- Primeiramente foi a curiosidade acerca do processo em si. Mas esta rapidamente se transformou no objectivo de ganhar os meus minutos de fama, os que Wharol deixou em testamento [Houve por aqui um narcisismo qualquer ao ver a minha imagem reflectida num espelho global]. Felizmente a coisa evoluiu rapidamente para uma necessidade de propor uma reflexão e discussão de assuntos diversos.
4. Que balanço faz da sua estadia na blogosfera e da blogosfera actual?
- A minha estadia na blogosfera é muito modesta. Não consegui ainda criar uma "identidade" apesar dos inúmeros blogs que criei e "assassinei". Creio que isto se deve à ineficácia dos blogs que crio, em termos comunicativos. Um excesso de entropia, talvez, ou muito simplesmente falta de assuntos realmente interessantes. Acho que, enquanto "blogger amador", não posso esperar muito mais.
Quanto à blogosfera em si, acho que padece mais ou menos do mesmo problema. Não conseguiu criar ainda uma "identidade inequivocamente credível" enquanto espaço de discussão. Mas é uma questão de tempo, como disse, de cristalização do nível informativo. Embora este conceito de cristalização pareça um pouco "fascizante", não o é de todo, uma vez que continua a permitir a discussão dos assuntos. Refiro-me unicamente a um "crivo natural" que será o público a decidir, que está a decidir, de resto - e que é dinâmico. Todos os outros continuarão activos, haja vontade dos escribas.
5. Acha que os blogues podem substituir a imprensa online?
- Não creio. Muito embora, durante esta "fase revolucionária" os papéis se misturem, se influenciem, creio que a seu devido tempo as águas acabarão por se separar. Repare-se, por exemplo, nos blogs informativos feitos por jornais. Repare-se nos blogs de jornalistas criados pelos próprios jornais.
A imprensa on-line, se bem que salvaguarde o necessário espaço para artigos de opinião devidamente sinalizados, deve continuar a ser o que é: imprensa. Deve obedecer a critérios éticos e deontológicos próprios do exercício da actividade jornalística, ao passo que a blogosfera deve conservar a liberdade que lhe é própria, sem complicação editorial. Claro que sou a favor de uma ética na blogosfera, mas isso é outra coisa.
Resumindo: um jornal, seja qual for o seu meio de publicação, não deverá nunca deixar-se influenciar pela prática blogger. Um blog não deverá nunca substituir um jornal a não ser que assuma compromissos éticos e uma linha editorial que permita o seu reconhecimento público, bem como a partilha integral da responsabilidade de uma notícia. É que, reparem: hoje estas são as minhas opiniões, amanhã, não sei… e que responsabilidade é imputada à minha credibilidade por isso?
[A acompanhar a web 2.0…]
6. Em que medida os blogues influenciam ou influenciaram a sua vida e/ou actividade profissional?
- Bom… pergunta difícil. No plano profissional, creio que o patrão tem mais uns bytes a pagar ao fim do mês, se bem que procure - e consiga - fazer as publicações nos meus "furos". No plano pessoal é que teve mais influência. Creio que terão sido os blogs os principais responsáveis por estar neste momento na faculdade [com esta idade, pá!?] a fazer um curso de Comunicação Empresarial já a pensar fazer as malas para um curso mais abrangente no ramo da Comunicação… a seu tempo.
7. O que faz um bom blogue?
- Essa é a "million dolar question"… Sinceramente, não sei. Já tive diversas experiências com blogs meus e devo dizer que os que menos gostei, tiveram um sucesso relativo. Lamentavelmente passa-se o oposto com os que mais gosto.
De uma forma geral, creio que um bom blog é um espaço de publicação regular que contém artigos "intemporais", daqueles que se podem ler com o mesmo prazer um ano depois. São blogs que, se o autor estiver um mês sem publicar, continuam a ter as suas leituras. Gosto especialmente de espaços limpos de preconceitos e de lixo.
Na minha opinião, fazer um bom blog não está de forma alguma relacionado com o objectivo de obter visitas e comentários por "dá cá aquela palha". Deve estar, isso sim, relacionado com o objectivo de se conseguir leitura de qualidade. Conheço muito bons blogs que não têm visitas quase nenhumas e que acabam por desistir por causa disso. Não o deveriam fazer.
E depois, há os outros. Os excelentes. Um desses é que não faço a mínima ideia de como se consegue.
- Vou considerar "vida cibernética" a vida verdadeira ou inventada conforme ela é exposta na blogosfera, sem passarmos pela fastidiosa sucessão de zeros e uns, pela vida em código binário de verdades e falsidades. Neste contexto, a blogosfera é, realmente, uma janela para a vida cibernética e como tal, expõe sem preconceitos tudo aquilo que por lá caiba. E cabe tudo.
O fenómeno blog está para os tempos actuais o que foram nos inícios dos anos 80 as "rádios piratas" ou os "fanzines" [adaptação da opinião do Filinto (do Jornada, no WordPress), que subscrevo parcialmente]. Realmente, a intenção desses meios alternativos de comunicação foi a de expor assuntos que não cabiam no espartilho da comunicação institucionalizada. Agora nos blogs, como na época nesses meios, a febre de publicação é a mesma e cada um de nós, bloggers, tenta publicar o que lhe interessa, ou pensa interessar aos outros.
Há, no entanto, diferenças muito grandes. A primeira relaciona-se, obviamente, com a escala. Ao passo que os meios referidos tinham uma escala reduzida tanto em número como em acesso, a blogosfera, mesmo em relação ao número de webpages que existiam antes dos blogs, é virtualmente infinita - tanto em número de páginas como de participantes. A segunda diferença prende-se com os assuntos apresentados. São todos. Todos e mais alguns, apresentados por toda a gente que tenha acesso a um computador e à internet e que queira falar sobre o que quer que seja, sem censura a não ser a do bom senso [ou da falta deste]. Isto tem espectos positivos e aspectos negativos, enfim, como toda a liberdade que o seja.
Resumindo, creio que o fenómeno blog é um fenómeno ainda em evolução e que acabará eventualmente por cristalizar. Participativo e interactivo, é um meio onde cabem todos e onde a partilha de informação pode e deve ser alcançada. É, na verdade, o "speakers corner" da internet.
2. Quando acede à blogosfera que tipo de blogues procura?
- Procuro blogs temáticos das mais variadas espécies. Desde a informação à poesia, passando pela opinião e pela poesia, fotografia, etc. Ultimamente tenho prestado mais atenção aos blogs que tratam da blogosfera em si.
3. O que o levou a criar um blogue?
- Primeiramente foi a curiosidade acerca do processo em si. Mas esta rapidamente se transformou no objectivo de ganhar os meus minutos de fama, os que Wharol deixou em testamento [Houve por aqui um narcisismo qualquer ao ver a minha imagem reflectida num espelho global]. Felizmente a coisa evoluiu rapidamente para uma necessidade de propor uma reflexão e discussão de assuntos diversos.
4. Que balanço faz da sua estadia na blogosfera e da blogosfera actual?
- A minha estadia na blogosfera é muito modesta. Não consegui ainda criar uma "identidade" apesar dos inúmeros blogs que criei e "assassinei". Creio que isto se deve à ineficácia dos blogs que crio, em termos comunicativos. Um excesso de entropia, talvez, ou muito simplesmente falta de assuntos realmente interessantes. Acho que, enquanto "blogger amador", não posso esperar muito mais.
Quanto à blogosfera em si, acho que padece mais ou menos do mesmo problema. Não conseguiu criar ainda uma "identidade inequivocamente credível" enquanto espaço de discussão. Mas é uma questão de tempo, como disse, de cristalização do nível informativo. Embora este conceito de cristalização pareça um pouco "fascizante", não o é de todo, uma vez que continua a permitir a discussão dos assuntos. Refiro-me unicamente a um "crivo natural" que será o público a decidir, que está a decidir, de resto - e que é dinâmico. Todos os outros continuarão activos, haja vontade dos escribas.
5. Acha que os blogues podem substituir a imprensa online?
- Não creio. Muito embora, durante esta "fase revolucionária" os papéis se misturem, se influenciem, creio que a seu devido tempo as águas acabarão por se separar. Repare-se, por exemplo, nos blogs informativos feitos por jornais. Repare-se nos blogs de jornalistas criados pelos próprios jornais.
A imprensa on-line, se bem que salvaguarde o necessário espaço para artigos de opinião devidamente sinalizados, deve continuar a ser o que é: imprensa. Deve obedecer a critérios éticos e deontológicos próprios do exercício da actividade jornalística, ao passo que a blogosfera deve conservar a liberdade que lhe é própria, sem complicação editorial. Claro que sou a favor de uma ética na blogosfera, mas isso é outra coisa.
Resumindo: um jornal, seja qual for o seu meio de publicação, não deverá nunca deixar-se influenciar pela prática blogger. Um blog não deverá nunca substituir um jornal a não ser que assuma compromissos éticos e uma linha editorial que permita o seu reconhecimento público, bem como a partilha integral da responsabilidade de uma notícia. É que, reparem: hoje estas são as minhas opiniões, amanhã, não sei… e que responsabilidade é imputada à minha credibilidade por isso?
[A acompanhar a web 2.0…]
6. Em que medida os blogues influenciam ou influenciaram a sua vida e/ou actividade profissional?
- Bom… pergunta difícil. No plano profissional, creio que o patrão tem mais uns bytes a pagar ao fim do mês, se bem que procure - e consiga - fazer as publicações nos meus "furos". No plano pessoal é que teve mais influência. Creio que terão sido os blogs os principais responsáveis por estar neste momento na faculdade [com esta idade, pá!?] a fazer um curso de Comunicação Empresarial já a pensar fazer as malas para um curso mais abrangente no ramo da Comunicação… a seu tempo.
7. O que faz um bom blogue?
- Essa é a "million dolar question"… Sinceramente, não sei. Já tive diversas experiências com blogs meus e devo dizer que os que menos gostei, tiveram um sucesso relativo. Lamentavelmente passa-se o oposto com os que mais gosto.
De uma forma geral, creio que um bom blog é um espaço de publicação regular que contém artigos "intemporais", daqueles que se podem ler com o mesmo prazer um ano depois. São blogs que, se o autor estiver um mês sem publicar, continuam a ter as suas leituras. Gosto especialmente de espaços limpos de preconceitos e de lixo.
Na minha opinião, fazer um bom blog não está de forma alguma relacionado com o objectivo de obter visitas e comentários por "dá cá aquela palha". Deve estar, isso sim, relacionado com o objectivo de se conseguir leitura de qualidade. Conheço muito bons blogs que não têm visitas quase nenhumas e que acabam por desistir por causa disso. Não o deveriam fazer.
E depois, há os outros. Os excelentes. Um desses é que não faço a mínima ideia de como se consegue.
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