sexta-feira, 12 de outubro de 2007

||| A IDENTIDADE


A obsessão com a identidade é apanágio de tempos de crise e de momentos indefinidos. Os índios discutem muito a sua identidade. Assim como os europeus que se entregam à famigerada identidade europeia com um afã e uma generosidade pouco vistas. Não há dia santo em que não haja um colóquio, um encontro, uma conferência sobre esse mítico tema. O vulgo sabe pouco da Europa. E menos quer saber das suas impalpáveis instituições burocráticas. Mas há um conjunto de portugueses sinceramente empenhados em pensar na Europa e na posição de Portugal. O problema é que, por costume, o que sai de tanto debate não interessa muito.O federalismo? O povo europeu? A nação europeia? As instituições comunitárias? Tudo isto é importante mas o alvo não está aqui. Não há, meus amigos, nenhum povo europeu, nenhuma nação europeia e nenhuma identidade europeia (para além de um século torcionário de duas guerras mundiais que, não por acaso, começaram neste continente). E podemos discutir eternamente esse tema metafísico sem chegar a resultado algum. Discutir o federalismo, que uns recusam e outros aprovam, não adianta também muito. O federalismo não é necessariamente bom nem é necessariamente mau. Há duas coisas em que temos de pensar antes de debatermos a Europa: primeiro, que as formas políticas não se defendem por acaso: se defendemos um Estado assente na unidade nacional de uma comunidade política, é porque consideramos (por várias razões) que esse Estado é a melhor forma de organizar essa comunidade política, a melhor forma de assegurar isso a que chamamos ordem, justiça, bem comum (o que lhe quiserem chamar); depois, e o mais importante, é que não devemos discutir a Europa como se não possuíssemos um interesse nessa discussão. A Europa como realidade abstracta não interessa. A Europa como ordem política autónoma (e indefinida) interessa menos. O que é importante é pensar na Europa onde Portugal (e os Estados como Portugal) contem mais. Isto, supomos, é defender o interesse nacional. É isto que devemos fazer.

# A Coluna Infame [link de origem]

Nenhum comentário: