sexta-feira, 28 de setembro de 2007

||| Os políticos de Negócios


Alguns partidos, perante a diminuição da sua influência, motivada pela sua própria incapacidade de representar de forma efectiva o interesse geral e de conduzir as (cada vez mais) diversas solicitações dos cidadãos, vêem-se obrigados a transformar-se internamente, em épocas de crise. Em consequência dessas transformações, sobretudo em momentos de crise dos partidos de massas, surge uma nova classe de político que considera que a política não é mais que um negócio como qualquer outro. Essa transformação abre espaços à infiltração nos partidos de uma classe de políticos com parco sentido da moral e da coisa pública. Nesta situação, a classe política é facilmente substituída por indivíduos que consideram a política basicamente como um negócio.

Os políticos de negócios caracterizam-se por indivíduos que querem sacar o máximo de proveito pessoal do controle dos recursos públicos. Para atingirem o seu objectivo, substituem a representação do interesse colectivo pela concretização das pretensões individuais.

Esta nova classe política consolida o seu poder ocupando vários cargos no sector público, uma vez que estes cargos permitem desde logo, atingir os seus objectivos sem entrave, nomeadamente no que se refere à apropriação privada de recursos públicos. E utilizam mesmo a burocracia (na forma como ela é entendida por Max Weber) em seu próprio benefício. Estes políticos de negócios enriquecem pessoalmente por meio de subornos e pela aplicação do seu poder político noutras actividades, sobretudo naquelas em que esse poder lhes confere um estatuto de condição de superioridade.

Em geral os políticos de negócios não possuem a preparação profissional ou formação ideológica que lhes permitiria cumprir as tarefas requeridas pela administração pública, nem tão pouco uma identidade colectiva formada com base numa comunidade de interesses.

Tudo isto obriga a perder a ideologia dos partidos e a sua capacidade para fazerem propostas, criando em simultâneo um sistema que exclui todos os que não compactuam com os seus métodos. Utilizam por isso todos os métodos necessários para conservar o poder adquirido e o acesso aos recursos públicos. Este tipo de partidos transformam-se em agências de socialização da ilegalidade, colocando os seus homens em cargos de responsabilidade de organismos públicos, a troco do cumprimento das regras de uso desses lugares, para o “financiamento político”. O facto de alguns partidos actuarem como centros do poder, ratificando os seus actos em vez de condená-los, permite que a corrupção se propague e se degrade tudo o que tem origem político.
A confiança é um elemento essencial na relação entre os cidadãos e os seus representantes, ou seja, é um valor que está implícito à decisão, na hora de eleger um representante. A confiança entre representados e representantes traduz-se também na confiança de um povo no seu sistema de governo, na legitimidade do Estado e das suas instituições. Em consequência, a diminuição ou falta deste valor pode colocar em causa todo o sistema político.

É importante salientar que a perda da confiança, derivada da corrupção política, produz um grave desinteresse da sociedade civil pela democracia representativa, traduzido num abstencionismo que nos afasta cada vez mais da vida política, na perda do significado do voto que tende a converter-se em mera mercadoria transaccionável, e numa falha na essência e legitimidade das eleições.

O tipo de apoio obtido pelos partidos políticos através da corrupção e do clientelismo, é incapaz de garantir uma verdadeira legitimidade ao sistema político e às instituições do governo.

# Magnolia in Abafos & Desabafos [link do post]

Um comentário:

Magnolia disse...

O processo de “desideologização “ dos partidos políticos é cada dia mais desenfreado. Quando se fala em política já ninguém com sentido comum se está referir à ideologia, mas sim ao poder. As ideologias estão a ser substituídas pelo marketing e o pragmatismo político, ambos mais rentáveis eleitoralmente, ainda que com o compromisso de renunciar aos valores.
Por outro lado, a supremacia do poder económico sobre o poder político é cada vez mais evidente e consequente. Os governos, em qualquer âmbito, têm em muitos casos menos poder que determinadas sociedades mercantis. O poder real, mais do que político, é económico.
Corremos o risco de que os interesses de grupos de pressão, nomeadamente os sindicatos, alterem o sentido do interesse geral, para inabilitá-lo, questão esta muito perigosa para um sistema democrático. O “acasalamento” entre a política e o dinheiro é sempre adúltero, porque tende a desvirtuar o sentido do interesse geral.
Porque, realmente, dada a influência financeira nos partidos políticos, a quem devem afinal o seu cargo, os políticos que nos representam numa qualquer instituição? A quem representam ao fim e ao cabo esses partidos?